Mês de agosto é sempre caótico?!
Dizem que é um ano em um mês. Que demora muito para passar.
Mas o que tem nesse mês de especial é o Dia dos Pais. E para mim é mais especial porque é o mês do aniversário do meu finado pai. Um mês com muitos sentimentos amadurecidos. Sim, amadurecidos pois ao longo de quase meio século de vida, eu passei por diferentes fases de sentimentos pelo meu próprio pai. Na infância, o pai divertido, na adolescência, um homem exagerado em tudo, na maneira de querer viver bem, no excesso de zelo e excesso de distanciamento afetivo. Na fase adulta, um homem esmagado pelas suas escolhas.
Mas será que ele teve escolhas ou apenas reagia com suas próprias ferramentas vividas?
Foi quando assinei o seu atestado de óbito que me caiu umas fichas. Meu pai não tinha o nome do seu pai no seu RG. E foi aí que tudo fez sentido. Como que eu gostaria de ter conversado com ele sobre isso, “seus sentimentos”. A vida é mesmo assim. Sou de uma geração onde os pais se mantêm em distanciamento dos filhos para não perder a autoridade. Uma criação sem diálogos, sem saber das suas histórias, sonhos, medos, mas repleta de broncas e falta de abraços. Posso arriscar e dizer que é o resumo de uma boa parcela de famílias brasileiras. Ainda bem que a ciência do desenvolvimento neural infantil está ai para mudar isso. Este assunto fica para outra oportunidade.
Quando meu pai faleceu, eu tinha voltado da Itália e defendido meu doutorado. Estava me preparando para voltar para a universidade italiana, mas diante dessa mudança repentina, decidi ficar no Brasil. Isso foi em 2012, ele tinha 59 anos, infartou e partiu em menos de 10 dias. Um susto que ninguém está preparado.
Você deve estar se perguntando porque estou falando sobre isso.
Agora que ele se foi, as memórias ficam mais doces, os excessos fazem sentido quando olho para a sua própria dor. E sem dúvida, ele faz falta e seria um avô muito amoroso para a minha filha, só não teve tempo.
Tudo isso para te mostrar que mesmo com mais de 20 anos como terapeuta, com acesso a várias formações diferentes, profissionais incríveis ao longo da minha jornada. Só quando eu olhei para a história de vida do meu pai, e da minha mãe também, foi que eu percebi realmente a porção humana deles. Que eles também passaram pelos dramas da história familiar. E é isso que te convido a abrir espaço na sua vida. Olhar para os seus pais com acolhimento, igual fazemos com os amigos que cometem um deslize com a gente. Com generosidade, pois eles também têm suas histórias tristes.
A intenção é trazer para a reflexão, ninguém vem nesse mundo se não for através de um vaso e uma semente, e que dentro deste vaso junto com esta semente, se formará um novo ser. E é neste momento que muitos estão, a semente se esquece do fruto, esquece da responsabilidade que é cuidar do seu próprio fruto, assim como o vaso, que também se esquece do fruto, se esquece da sua responsabilidade com esse fruto, e nesse ciclo o fruto passa uma vida inteira desejando o acolhimento, o respeito e o ser visto pela semente e pelo vaso.
Aqui não é a questão de quem dá amor e de quem cria. O vaso sabe da sua responsabilidade de transporte para este mundo através da semente, a semente sabe da sua responsabilidade, mas não cumpre o seu papel. Muitos vasos e muitas sementes ainda estão vivendo neste mundo como frutos, aguardando o reconhecimento, aguardando o pertencimento pelo seu próprio vaso e semente.
Essa é uma dor muito latente no coração das pessoas. Muitos frutos, ou seja, muitas pessoas estão aguardando o pertencimento, o reconhecimento, pelo seu pai, semente, ou pela sua mãe, vaso.
E muitas pessoas, muitos frutos, vivem a vida sem avançar na condição de vaso ou de semente, deixando o seu próprio fruto, gestado, criado, aguardando também o reconhecimento.
Só o amadurecimento de cada vaso e de cada semente, para perceber a responsabilidade de gerar um fruto e tomar o seu lugar de criadores de paz, de tranquilidade e acolher o fruto gestado, o fruto criado, assim, diminuir a possibilidade de gerar a dor de não se sentir pertencente. Não é sobre amor, esse amor romântico de pai e de mãe, é sobre pertencer, é sobre saber de qual árvore você veio e se sentir respeitado por esta árvore. Saber da sua origem!
E quando o fruto honra a sua árvore, a sua origem, a sua vida flui melhor. Mesmo que não tenha sido o ideal, mesmo que tenha dores causadas por um/outro, ou pelos dois. Quando o fruto entende que cada um só dá o que tem e que cabe a ele fazer o seu melhor com aquilo que recebeu ou melhor, fazer diferente com aquilo que recebeu, a vida acontece!
A prosperidade e a abundância acontecem para aqueles que compreenderam que respeitar, que honrar a sua árvore de origem, honrar o seu vaso e a sua semente faz com que quebre velhos ciclos viciosos, quebre o ciclo da dificuldade, abrindo espaço para abundância, para a saúde e para a cura de si, de quem veio e de quem virá.
Faça a SUA Árvore da Família, copie e cole as fotos dos seus familiares. A vida merece ser mais doce.
Não é sobre amar o pai e a mãe, mas respeitar a história de cada um e entender que cada um dá aquilo que vai dentro de si. Como costumo dizer, ninguém oferece milho, tendo apenas feijão. E cabe a cada um plantar o seu próprio milho, e quem sabe, doar um pouco desse milho para quem deveria dar, mas não tinha. Chamo isso de generosidade afetiva, outros chamam de perdão.
E se engana quem acha que eu “defendo” ficar sendo maltratado por quem deveria nos amar. Mais uma vez, não é sobre amor.
Honrar pai e mãe é saber da sua origem, saber da substância de que somos feitos. E se não cuidar, adubar, tirar as ervas daninhas, continuaremos o ciclo de árvores rústicas, com flores sem beleza ou sem frutos nutritivos.
O que defendo, quando possível, aceitar a natureza humana dos seus. Aceitar que ninguém é perfeito. Poderia ser melhor? Poderia, com autodesenvolvimento e muita disposição para terapia. Mas esse negócio de terapia, ho’oponopono, autodesenvolvimento é muito moderno. Não era possível na época dos nossos pais.
Mas e os perversos? Também merecem o nosso perdão?
Não é perdoar, é aprender a não se odiar pela sua origem. Pois não tem como mudar de quem viemos, mas tem como mudar o que sentimos em relação a esse passado, meu convite é para despertar e alimentar o seu amor próprio, focar mais em você. Se você veio de uma família disfuncional, é seu desafio gerar uma família funcional a partir de você. Não necessariamente ter filhos, mas cuidar como se você fosse semear novas sementes, com mais material amoroso.
Não tem como alterar o passado. A história é da maneira que aconteceu. O que você pode fazer é alterar o seu presente, limpando as ervas daninhas, colocando cada um no seu lugar.
E se você conseguir almoçar com os seus num domingo, você é um vencedor. Se você veio de uma família funcional (neuro compatível), você tirou a sorte grande na vida.
Nunca se esqueça de que cada um dá na exata medida do que tem dentro do coração e cabe a você como adulto semear o que estiver “faltando”. A terapia ajuda imenso. Acredito que só a terapia é caminho seguro.
Cuide de você com amor e tranquilidade.
Um abraço virtual bem apertado,
Fúlvia Maria
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