Aborto, o ônus é só da mulher?
Uma nova polêmica nas redes sociais sobre a autorização do aborto até os três meses de gestação está evidenciando um hiato de desinformação e machismo das próprias mulheres.
Se você pertence a uma família estruturada, onde sua mãe lhe deu bases informativas e afetivas sobre sexualidade, essa lei não impacta em nada a sua vida.
Agora, se você faz parte das mulheres que tiveram que aprender tudo sozinha, ou por não ter uma base familiar ou por fazer parte de uma família tradicional, adepta dos bons costumes e tradições, onde falar sobre sexualidade é quase uma ofensa. Esse post pode te interessar!
Pais ricos levam a filha em médicos de sua confiança
Para as famílias tradicionais, quando a filha aparece grávida, são os pais que a levam ao médico de sua confiança, muitas das vezes sem se preocupar com a vontade da filha. Muitas acabam interrompendo a gravides, sem sequer ter o direito de serem avisadas.
As outras meninas morrem em casa ou em lugares piores que açougue
Outras, pelo rigor familiar, com medo da reação dos pais, acabam optando, as vezes sem opção mesmo, por tirar. O namorado leva-a numa clinica ou entrega umas pilulas, também sem muita consciência do que está acontecendo, assim, aborta. Onde um pedaço de sua alma vai ralo abaixo. Ela será sua própria cruz, tamanha dor e medo dessa noite sombria, sem que a sua família nem perceba o mal estar ou a sombra da morte.
Meninas Invisíveis
Essa invisibilidade familiar, é o que chamo de meninas invisíveis. A própria família não a vê, não percebe e acaba sendo conivente com todo esse sofrimento. Mesmo que convivam juntas, façam compras e etc. A sua mudança corporal não é notada.
Existe outra classe de meninas invisíveis, onde a gravidez só é percebida na hora do parto ou ainda as que parem sozinhas e dão outro destino a criança.
É muito fácil julgar as mulheres por querer interromper a gravidez, mas porque não se questiona a ausência familiar dos pais? A ausência de educação sexual dentro de casa, pois sim, é obrigação da família.
É triste ver mulheres acusando mulheres de que hoje tem camisinha, pilulas, etc, etc… Caiam na real, muitas nem sabem ou não tem acesso a isso, devido a sua estrutura familiar.
Ainda temos as mulheres vitimas de abusos de toda sorte.
Ahhh, mas tem aquelas que tem toda estrutura, são bem informadas e mesmo assim revolvem interromper a gravidez. Para essas – cada um é responsável por si e cada ação tem uma reação. É a lei do universo, então não precisa se preocupar, nem se sentir donos da vida alheia. Cada um tem sua colheita conforme o seu plantio. Cuidar bem da sua própria vida já ajuda muito e caso seja mãe, cuide de explicar muito bem sobre sexualidade e afetividade aos seus filhos e filhas, pois é responsabilidade dos homens também.
A Lei ajuda as mulheres e meninas invisíveis, as que não se sentem seguras, sendo amparadas pelo Estado, para que o numero de mortalidades e sequelas sejam diminuídas.
Apesar do tema ser polemico, precisa sim, ser olhado com seriedade. Não sejamos ingênuos, não será fácil interromper a gravidez, não será como ir na doceria e pedir um brigadeiro. Há uma serie de ações e instruções que podem reverter o desejo do aborto.
A Lei propicia a discussão e mudança de paradigmas
Acredito que essa lei, além de diminuir os óbitos femininos, possibilita maior informação e educação sexual. Não adianta fingir que não temos esse problema, pois é um caso de saúde publica.
Mães, antes de levantar a bandeira da família tradicional, se certifique de que na sua casa as meninas estão sendo apoiadas, ou será que fazem parte das meninas invisíveis?
Mulheres, mais amor e respeito com suas irmas mulheres, o assunto é muito complexo para essas analises rasas como “um dia tive 3 meses”, isso me dá vergonha alheia.
Somos a favor da vida? Então porque não somos a favor do bolsa família, das ações sociais, não estamos preocupados se voltaremos ou não ao mapa da Fome, não olhamos com piedade quando uma mulher é espancada dentro de casa? Quando uma menina aparece gravida e provavelmente é de parentes próximos? Nos calamos e a crueldade continua a assombrar milhares de lares, onde existem “mulheres- mães” ausentes e omissas.
Sim, é um assunto indigesto, mas que precisa ser levado com muita seriedade e respeito.
Não precisaríamos de uma lei dessas se todas as mulheres tivessem os mesmos direitos, se todas morassem em lares amorosos, se os laços maternos fossem reais e cuidadosos. Se a educação sexual e afetiva fossem olhadas com carinho e a seriedade que o tema pede. Se as mulheres criassem homens amorosos e não ditadores.
Não sou a favor do aborto, mas sou a favor da vida! Em todas as suas instâncias, não só quando ainda somos fetos.
Vamos gastar energia educando melhor meninos e meninas. É responsabilidade de todos, não apenas das mulheres, mas o corpo é da mulher e cabe a ela a decisão.