O luto, a tristeza e a dor da saudade
Hoje é um dia apropriado para falar sobre algo muito difícil, o luto.
No dia 15 de setembro de 2016, o ator Domingos Montagner faleceu aos 54 anos. Esse fato fez uma comoção nas redes sociais. Muitas pessoas começaram a pensar sobre a fragilidade da vida. Na verdade ninguém sabe quando seremos chamados para retornar a morada celestial.
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A máxima que “a única certeza da vida é a morte”, é falada com frequência, mas pouco sentida com verdade. A morte é sempre sentida com muita dor e estranheza.
Pessoas morrem e nascem todos os dias, a morte visita crianças, jovens e velhos, embora sem antes causar espanto, indignação e revolta, conforme a idade da vitima. Não aprendemos a lidar com esse fato da vida. Todos sabem que um dia irão morrer, vivem sem se preocupar com isso e quando estão na eminencia de morrer, acabam sentindo que não viveram como gostariam.
A morte de crianças e jovens ainda é mais difícil. Quando um pai perde um filho, não tem palavra que descreva. Quando enterramos nossos pais, ficamos órfãos. Algumas pessoas acreditam que é mais fácil enterrar pais que filhos, mas na verdade a dor é de cada um, não existe dor menor ou maior. A minha dor não é melhor ou mais dolorida que a sua, não tem cabimento tentar comparar a sua dor com a de outra pessoa.
A dor do luto é real, dolorida e geralmente leva a pessoa ao desespero.
Muitas pessoas tentam diminuir essa dor, tomando calmantes, ficando completamente alheio na hora do velório e enterro. Acredito que isso seja um erro terrível. Pois a dor do luto precisa ser vivenciada com toda a sua realidade cruel. Só assim, chorando e percebendo todo o ritual do funeral é que podemos lidar com essa dor, que no primeiro instante nos parece insuportável.
Com o passar dos dias, percebemos que a dor não passou, na verdade, precisamos encontrar espaço dentro do nosso coração, como uma gaveta, para que a dor da saudade se acomode, estando como que num lugar sagrado. É importante separar essa gaveta, deixá-la sempre arrumada e com o passar do tempo, abriremos com menor intensidade. No outro canto do coração, devemos deixar outra gaveta, aquela com as lembranças doce e felizes da pessoa que se foi. Essa gaveta, com o tempo será mais aberta que a primeira, trazendo amparo ao nosso corpo e coração.
A saudade sempre estará, porém, sofra, chore, chore muito, mas não se desespere, esvazie o seu coração de toda essa dor que parece agora insuportável. E quando não tiver mais lagrimas, levante a cabeça, se olhe no espelho, pode ser que perceba que até envelheceu um pouco mais e recomece a ver sentido na vida. O chorar na hora do luto é fundamental, não usem calmantes demais, deixe a pessoa chorar mesmo, assim, ela ficará mais competente de atravessar essa fase da vida com mais competência emocional.
Chorar faz bem, indica ao corpo que estamos sofrendo e quando paramos de chorar o corpo entende que podemos conviver com essa dor.
Quando existirem crianças, não escondam o fato. Se possível, levem ao velório, para ficar um pouco, para verem os seus entes amados mortos. Assim, elas compreenderão a fragilidade da vida. O destino fatal de cada ser mortal. Não esqueçam de explicar de forma lúdica sobre vida e morte, mas não escondam, senão elas sentirão que foram abandonadas.
As pessoas que ficaram, precisam do seu sorriso e da sua presença inteira. Isso mesmo, não viva pela metade, não foi você quem partiu, não deixe que a dor apague o seu brilho, ainda existem pessoas amadas a seu redor, eles estão esperando a sua recuperação. Você deve estar pensando – que fácil falar, quero ver estar no meu lugar! Todos, sem exceção tem suas lutas e dores diárias, a sua não é maior nem melhor, é a sua dor. Olhe a vida, você ainda está viva e precisa tomar o seu lugar na família. Os que ficaram também sofreram a perda, mas conseguiram seguir adiante, você também consegue. Eles estão esperando a sua alegria na vida deles também.
Como dizia o poeta Guimarães Rosa, “Refresca teu coração. Sofre, sofre, depressa, que é para as alegrias novas poderem vir.”
Dra. Fúlvia Maria é Farmacêutica, Psicoterapeuta, Consteladora, Coach e Cientista. CEA na Full Therapia & Desenvolvimento. Sintonizadora das Gotas Licorosas F-Core. Após anos de experiência, formulou a FULL THERAPY, uma terapia completa para cuidar do corpo, mente e espirito.
fonte: Jornal A Gazeta da Tarde, em 17 de setembro de 2016. Novo Horizonte, São Paulo